18 novembro 2010

Por que não sou cristão - 1

Publicarei alguns trechos do livro "Por que não sou cristão" de Bertrand Russell com intuito de provocar a reflexão e discursão a respeito dos temas.


"Ao dar ênfase à alma, a moral cristã tornou-se completamente individualista. Penso que o resultado claro e liquido de todos estes séculos de cristianismo foi tornar os homens mais egoístas, mais fechados em si mesmos, do que a natureza os faz - pois que os impulsos que naturalmente tiram o homem para fora das paredes do seu ego são os do sexo, a paternidade, o patriotismo e o instinto de rebanho. 
O sexo, a igreja fez tudo para desacreditar e denegrir; 
o afeto de família foi desacreditado pelo próprio Cristo e pelo os grossos de seus adeptos;
o patriotismo  não pôde encontrar lugar entre as populações sujeitas ao império romano. 
A polemica contra família nos evangelhos é um assunto que não recebeu a atenção que merece. A igreja trata a mãe de Cristo com reverencia, mas ele próprio pouco revelou desta atitude. "Mulher, que tenho eu contigo?" é a sua maneira de falar-lhe. Também diz que veio separar o filho do seu pai, e a filha da sua mãe,...e aquele que ama o pai ou a mãe mais do que a Ele, não é digno D'Ele. 
Tudo isso significa uma ruptura no laço biológico da família a bem da fe - uma atitude que muito teve haver com a intolerância que surgiu no mundo com a expansão do cristianismo." 

14 novembro 2010

A crítica

Conta-se que um rapaz muito inteligente e que gostava de desenhar, apreciador das obra de arte, um dia pediu ao conhecido e admirado caricaturista inglês Hogarth que lhe ensinasse a fazer caricaturas.
- Não, você não deve desejar conhecer esta arte. Não trace nunca uma caricatura. Eu lhe digo com imensa magoa que, pelo uso continuo da arte de caricaturar tudo e todos, perdi o valor da verdadeira beleza, porque só vejo rostos desvirtuados e coisas fora de proporção...
Muitas vezes é assim que olhamos para nossos semelhantes – temos o defeito de ver neles apenas o que é feio e ruim e não sabemos apreciar as virtudes.

04 novembro 2010

Versões de mim

(Luiz Fernando Veríssimo)

Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido.

Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número (unzinho e eu ganhava a sena acumulada), topado aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito sim, dito não, ido para Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste…

Agora mesmo neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz – aliás, o nome do bar é Imaginário – sentou um cara do meu lado direito e se apresentou:

- Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo

E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara. E o mesmo desconsolo.

- Por que? Sua vida não foi melhor do que a minha?

- Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei a seleção. Fiz um grande contrato. Levava uma grande vida. Até que um dia..

- Eu sei, eu sei… disse alguém sentado ao lado dele.

Olhamos para o intrometido… Tinha a nossa idade e a nossa cara e não parecia mais feliz do que nós. Ele continuou:

- Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça, largou o futebol e foi ser um medíocre propagandista.

- Como é que você sabe?

- Eu sou você, se tivesse saído do gol. Não só peguei a bola como me mandei para o ataque com tanta perfeição que fizemos o gol da vitória. Fui considerado o herói do jogo. No jogo seguinte, hesitei entre me atirar nos pés de um atacante e não me atirar. Como era um herói, me tirei… Levei um chute na cabeça. Não pude ser mais nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria do INSS e só faço isto: bebo e me queixo da vida. Se não tivesse ido nos pés do atacante…

Ele chutaria para fora. Quem falou foi o outro sósia nosso, ao lado dele, que em seguida se apresentou.

- Eu sou você se não tivesse ido naquela bola. Não faria diferença. Não seria gol. Minha carreira continuou. Fiquei cada vez mais famoso, e agora com fama de sortudo também. Fui vendido para o futebol europeu, por uma fábula. O primeiro goleiro brasileiro a ir jogar na Europa. Embarquei com festa no Rio…

- E o que aconteceu? perguntamos os três em uníssono.

- Lembra aquele avião da VARIG que caiu na chegada em Paris?

- Você…

- Morri com 28 anos.

- Bem que tínhamos notado sua palidez.

- Pensando bem, foi melhor não fazer aquele teste no Botafogo…

- E ter levado o chute na cabeça…

- Foi melhor, continuou, ter ido fazer o concurso para o serviço público naquele dia. Ah, se eu tivesse passado…

- Você deve estar brincando.

Disse alguém sentado a minha esquerda. Tinha a minha cara, mas parecia mais velho e desanimado.

- Quem é você?

- Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público.

Vi que todas as banquetas do bar à esquerda dele estavam ocupadas por versões de mim no serviço público, uma mais desiludida do que a outra. As conseqüências de anos de decisões erradas, alianças fracassadas, pequenas traições, promoções negadas e frustração. Olhei em volta. Eu lotava o bar. Todas as mesas estavam ocupadas por minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente. Comentei com o barman que, no fim, quem estava com o melhor aspecto, ali, era eu mesmo. O barman fez que sim com a cabeça, tristemente. Só então notei que ele também tinha a minha cara, só com mais rugas.

- Quem é você?perguntei.

- Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice.

- E..?

Ele não respondeu. Só fez um sinal, com o dedão virado para baixo…

Creio que a vida não é feita das decisões que você não toma, ou as atitudes que você não teve, mas sim, aquilo que foi feito!

Se bom ou não, penso, é melhor viver do futuro que do passado!
Related Posts with Thumbnails