14 julho 2010

Obedecendo ao guru da autoajuda

sesamestreet-300x270Imagine-se nesta palestra. O guru estava vestido com um belo terno e uma discreta gravata. À sua frente, a platéia: mais de 4 mil executivos das principais empresas brasileiras e algumas internacionais. O guru guiava a todos com a voz típica de um hipnotizador, lenta e suave:
“Feche os seus olhos. Respire fundo. Imagine como será a sua vida no próximo ano. Agora imagine sua vida daqui a 5 anos. Como você se enxerga? Você é uma pessoa bem sucedida? Está feliz?”
Você, com o seu aguçado senso de autocrítica, permanece estático, de olhos abertos, admirando o espetáculo. Olha para os lados, vê aquela multidão de homens de negócios com os olhos fechados, reféns do guru da autoajuda, e não contém o risinho sarcástico que se desenha em seus lábios.
Quanto tempo você permaneceria nessa palestra? Eu passei dez minutos – ou menos.
O guru da autoajuda em questão era o idolatrado “Spencer Johnson, M.D.”, autor de um dos maiores best sellers corporativos de todos os tempos, Quem mexeu no meu queijo?, livreco de 100 páginas impressas em Times New Roman tamanho 17, e com a profundidade de um prato de sopa. Exemplo de um dos preciosos conselhos de Johnson, M.D., pelos quais as pessoas compram seus livros e pagam por suas palestras: “se você não mudar, você morrerá”. Céus! Isso chega a ser pior que a baboseira cósmica de O Segredo, outra pérola da auto-ajuda.
Como nos sujeitamos a esse tipo de engodo?
Sou um verdadeiro gato escaldado no assunto. Acredite em mim. Perdi a conta de quantas palestras já assisti. Nas primeiras, entrava no clima. Se o palestrante mandasse abraçar o ilustre desconhecido ao lado, eu abraçava. Se o cara falasse “levantem as mãos e gritem ‘eu sou um vencedor’”, eu obedecia, levantava os braços e repetia a ladainha. No final, ainda comprava as fitas de vídeo com a mesma palestra, para não esquecer jamais os ensinamentos aprendidos naquele dia. Não me levem a mal, eu tinha catorze anos nessa época…
À medida que o tempo passa e nos aprofundamos em nossos temas de interesse, inevitavelmente, ficamos mais exigentes. Ou isso ocorre ou não estamos nos dedicando o suficiente. A palavra-chave desse processo é aprofundar. Devemos nos permitir mergulhar mais fundo nas águas do conhecimento. É como requintar o paladar. Não dá para comparar fast food com alta gastronomia.
De qualquer forma, o fato é que muita gente acredita – e investe – em livros e palestras do gênero. Se assim não o fosse, a auto-ajuda não seria um dos filões mais rentáveis da indústria livreira, nem os eventos empresariais contariam com tantos gurus como Spencer Johnson & companhia.
Enfim, gostaria de saber o que vocês acham desse assunto, como se comportam em palestras do gênero, se apreciam, acreditam – ou se sou só eu o complicado…
Leitura recomendada
Rodolfo Araújo escreveu um dos artigos mais originais e contundentes sobre esse tipo de literatura, batizado criativamente de O nascimento do auto-atrapalha. Ele resume a falácia dos livros a uma única lição: sucesso é uma questão de vontade e genialidade. Depois de ler o livro de autoajuda você resolve a questão da vontade, porque aí passa a querer ser um sucesso. Mas, se depois disso você não vira um sucesso, é porque a outra parte da fórmula está errada. É quando você descobre – ou ao menos deveria descobrir – que não é um gênio.
Alvaro Augusto despedaçou o livro de Spencer Johnson no artigo Quem mexeu no meu queijo: uma análise crítica. Além das críticas à obra, o Alvaro alerta os leitores a não levarem tão a sério as letrinhas que acompanham o nome dos autores, como MD, PhD, etc.

Fonte: Voce S/A

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